Para você, qual o perfil de uma mulher forte? O que suportaria?
Diante de um novo milênio, deveríamos estar habituados a um cotidiano onde as mulheres, essenciais na estrutura de uma sociedade coesa, produtiva e saudável, não precisassem passar por humilhações, exploração e submissão diante de uma mera diferença de gênero.
Infelizmente, por questões que envolvem uma série de fatores que vão desde a cultura machista enraizada no país à falta de oportunidades nas mais variadas áreas, essa não é a realidade do Brasil.
A violência contra a mulher ainda faz parte de uma das estatísticas mais danosas para a sociedade. Dados recentes do Monitor da Violência apontam que teve um aumento de 7,3% nos casos de feminicídio em 2019 em comparação a 2018. São mais de 1300 mulheres mortas, simplesmente pelo fato de serem mulheres, uma a cada 7 horas, em média.
Mas em Itapetininga um projeto que leva o nome sugestivo “Agentes de Mudanças” realizado pela Prefeitura de Itapetininga, por meio da Secretaria da Promoção Social e coordenado pelo Centro de Referência em Assistência Social – CREAS, tem feito a diferença na vida de dezenas de mulheres vítimas de violência.
Nos últimos quatro anos, aproximadamente 4500 atendimentos foram realizados junto às mulheres vítimas das mais perversas e “criativas” formas de violência tipificadas pela Lei Maria da Penha, como física, psicológica, sexual, moral e patrimonial, com tratamento psicológico, acompanhamento de assistente social e orientação jurídica.
De acordo com a coordenadora do projeto, a psicóloga Ana Lúcia João, “o atendimento às mulheres vítimas de violência tem muita eficácia, pois elas encontram um espaço sem julgamentos e preconceitos onde elas podem compartilhar suas experiências e se fortalecerem para os desafios de enfrentamento à violência doméstica e familiar. Essas mulheres não chegam a ficar fora da sociedade, mas por estarem com a autoestima muito baixa quando chegam até o serviço, em geral não estão em condições de atividades sociais e até mesmo impossibilitadas de fazer o mínimo necessário para sua sobrevivência. Praticamente todas as mulheres atendidas nesse projeto ganham forças necessárias para enfrentar a violência, salvo raras exceções onde a mulher não adere ao serviço”, explica a profissional.
Após o momento de acolhimento, a mulher é inserida no Grupo e encaminhada para atendimento psicológico. Frequentemente são feitas visitas domiciliares para aquelas que estão faltando do grupo ou que exijam outras demandas do CREAS.
As mulheres, em sua maioria em situação de vulnerabilidade social, chegam encaminhadas pela Rede de Atendimento por meio do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, Delegacia da Mulher, Postos de Saúde, Defensoria Pública, Centros de Referência e Assistencial Social - CRAS e de forma espontânea. O CREAS trabalha de portas abertas e qualquer mulher pode se dirigir ao Centro para ser atendida.
Um exemplo é dona de casa que aqui, iremos chamar pelo nome fictício “Maria”. Tímida e de poucos palavras a frequentadora do grupo conta que sofreu com agressões de todos os tipos por 38 anos num relacionamento abusivo e que, felizmente, conseguiu “se libertar” da relação.
“Fui ao fundo do poço. Não conseguia nem me olhar no espelho. Ainda faço tratamento psicológico e continuo no grupo, mas agora viajo e me sinto muito melhor”, relata numa conversa curta, com poucas palavras, mas com vestígios do trauma.
Em geral as mulheres chegam em sua maioria sem apoio familiar. Muitas vezes por medo e vergonha acabam não pedindo ajuda para não ter que expor sua situação e, após frequentar o grupo, e se fortalecerem e estreitam seus laços familiares.
“Contamos com a parceria da Vigilância Epidemiológica onde são feitos os atendimentos psicológicos. Fazemos articulações com a Rede Pública para que os encaminhamentos aconteçam. Aqui é importante ressaltar que com a criação da “Casa da Mulher” (Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência) o serviço ganhará maior visibilidade e aumentará a articulação com a Rede”, conclui a psicóloga e coordenadora do serviço Ana Lúcia João.
Toda mulher itapetiningana que esteja em situação de risco ou de violência tem pode ter acesso ao serviço. Qualquer dúvida, basta ligar no CREAS pelo (15) 3275-4381 ou, ainda fazer sua denúncia pelo Disque 180.
É de extrema importância que a mulher denuncie o agressor e procure ajuda caso não saiba qual o caminho seguir para essa denúncia. A violência contra mulher segue numa escalada crescente e pode ser combatida com ações práticas e eficazes.
ITAPETININGA