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Educação - Quarta-feira, 11 de Dezembro de 2019

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Inovação e inclusão marcam a presença do campus do Instituto Federal em Itapetininga

Inovação e inclusão marcam a presença do campus do Instituto Federal em Itapetininga


Inovação e inclusão marcam a presença do campus do Instituto Federal em Itapetininga

Os estudantes do campus de Itapetininga do Instituto Federal (IFSP), distante 170 quilômetros da capital paulista, se destacaram na criação de projetos inovadores na área da tecnologia, ao subir no pódio com as três pesquisas apresentadas entre 400 trabalhos participantes, no concurso do #BeTheBoss Itapetininga, etapa local, criado pela atual administração municipal. A presença da instituição marca a inclusão de jovens de baixa renda no ensino superior e técnico e contribui para que a região não enfrente um “apagão” na formação de mão de obra altamente especializada.

De acordo com o diretor da unidade do IFSP em Itapetininga, Ragnar Hammarstrom, a cada passo a instituição se consolida no Sudoeste Paulista, uma das regiões de maior vulnerabilidade social do Estado de São Paulo, marcada pela desigualdade social e educacional, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Com 70 professores, a maioria com mestrado e doutorado, a instituição acumula pesquisas e produtos com desenvolvimento de patentes e turmas de pós-graduação. São 1.100 alunos que buscam o passaporte para a melhoria salarial. 

Em 2018, o rendimento dos profissionais com ensino superior completo alcançou, em média, R$ 5.110 mensais, o triplo se comparado aos trabalhadores com Ensino Médio concluído que ganharam R$ 1.727 e cerca de seis vezes em relação aos funcionários sem qualquer nível de instrução, em que renda a média foi de apenas R$ 842. Os dados pertencem a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), realizada pelo IBGE.

Hammarstrom informou que o campus possui uma disciplina que adota o empreendedorismo como uma das características na formação dos alunos. “Muitos estudantes têm a cultura tecnicista, basta conseguir um trabalho e pronto, tudo está resolvido. Mas dentro de uma corporação tem que ter também iniciativa e autonomia. É necessário pensar fora da caixinha”, sentenciou. As aulas de empreendedorismo são oferecidas para os cursos técnicos e engenharia. Estudos do GEM (Global Entrepeneurship Monitor), em 2019, indicam que 38% da população ou 52 milhões de brasileiros possuem negócio próprio, formal ou informal.

 

IFSP irá instalar unidade de Arranjo Produtivo Local

No próximo ano, o campus de Itapetininga irá abrigar uma unidade de Arranjo Produtivo Local (APL). O futuro projeto é resultado do Centro de Desenvolvimento Regional (CDR) do Sudoeste Paulista, ao lado de outras entidades de ensino e pesquisas. “Este é o fruto de muitas reuniões preliminares das instituições de ensino da região.  Em breve, iremos criar a estrutura de uma Incubadora de empresas, com o desenvolvimento de startups”, aposta o diretor do IFSP. A intenção é que os estudos acadêmicos dos alunos ultrapassem o muro do campus e cheguem à vida real de empresas privadas e públicas.

A unidade de Itapetininga está incluída entre os cinco projetos pilotos do CDR deste gênero no país, as demais são: Campina Grande (PB), Área Metropolitana de Brasília (DF/GO), Triângulo Mineiro (MG) e Região da Campanha (RS). A implantação do projeto CDR é desenvolvida pelo Centro de Gestão e de Estudos Estratégicos (CGEE) em parceria com o Ministério da Educação (Sesu/MEC). O objetivo é articular as instituições de ensino superior para colocar em prática, junto a atores locais, iniciativas a favor do desenvolvimento regional.

O coordenador de inovação e pós-graduação do campus de Itapetininga, Alexandre Shigunov Neto, explica que o núcleo de inovação irá criar um canal entre universidades e empresas privadas. “Hoje, os setores não se falam”, acrescenta. A iniciativa é aproximar instituições de ensino, empresas, governos e associações com ações inovadoras e empreendedoras no território local. De acordo com Hammarstrom, a vocação da instituição federal é estar inserida junto à comunidade. “Nossa função é irradiar conhecimentos.”

 

Engenharia Mecânica chegou no 1º ano da atual gestão municipal

A administração municipal atual tem oferecido apoio às instituições voltadas para cursos técnicos e universitários, como Etec, Fatec e IFSP. Na Etec, implantou uma pista de ciclovia que colocou fim ao alagamento enfrentado pelos alunos que acessavam a Etec da Chapadinha, bairro distante 7 quilômetros do centro de Itapetininga. No primeiro ano da gestão atual, a cidade registrou a vinda do curso de Engenharia Mecânica.

Pedro Roberto Goulart, professor de mecânica do IFSP, explicou que a instituição possui autonomia para escolher os cursos e implantá-los. A escolha de Engenharia Mecânica seguiu o critério de “suprir a demanda por ensino em regiões interioranas por cursos superiores de qualidade”, informou. “Como sabemos, o avanço econômico de uma região é a vinda de indústrias que para se instalar e continuar crescendo, necessitam de pessoal altamente qualificado”, relatou Goulart.

Assistência fortalece a permanência dos estudantes

O programa de assistência dos institutos federais busca gerar perspectivas de ascensão social das camadas mais pobres. No Brasil, 75% das vagas disponíveis do ensino superior são de instituições privadas, a maioria da população não tem condições de pagar as mensalidades e o acesso fica restrito. De acordo com a assistente social do IFSP Itapetininga, Jussara Cristina Rodrigues, os estudantes da unidade pertencem a famílias em que a renda média não ultrapassa a um salário e meio per capita, aproximadamente R$ 1.500 mensais, por pessoa.

O diferencial nesta hora, se comparado com as instituições privadas, é o sistema de proteção oferecido pelo IFSP para alunos que se enquadram no padrão de vulnerabilidade social, por meio do Programa de Auxílio de Permanência da Assistência Estudantil. “Não é um problema apenas de renda, mas que enfrentam dificuldades no vínculo familiar, questão de gênero e raça”, enumerou. São coberturas, de acordo com Jussara, como auxílios para moradia, refeição e transportes.

Aproximadamente 200 alunos utilizam algum tipo do apoio disponibilizado. “São atendidos 20% do corpo discente. É uma região economicamente simples, a maioria das famílias busca oportunidades e melhoria da remuneração”, disse.

 

Auxílio e suporte de professores para transferência de conhecimento

Com um sorriso largo, a estudante Geovana Roberto Gabriel, 19 anos, concluirá no próximo ano a graduação em Matemática no campus de Itapetininga do IFSP.  Nesta trajetória, o auxílio financeiro ajudou a sua permanência na instituição de ensino. “Sem estes auxílios não estaria aqui. Recebi o dinheiro hoje, é mais um mês assegurado.” Ela conta com o auxílio-moradia e uma bolsa de iniciação científica. Com o dinheiro, paga o aluguel, sua alimentação e a sobra envia para sua mãe que reside em Salto de Pirapora, cidade do interior de São Paulo, onde fez todos os estudos em escola pública.

 O depoimento da estudante responde a estratégia do Instituto Federal de garantir a mobilidade social de jovens menos favorecidos economicamente. Projeta-se que a interiorização da Rede Federal de Ensino proporcionará melhoria no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nas regiões de atuação direta de cada unidade e aceleração no processo de desenvolvimento local. Em 2003, eram 45 universidades, com 148 campi ou unidades, atendendo 114 municípios. Já em 2018 o número saltou para 644 campi ou unidades, em 568 municípios.

De acordo com a estudante, o campus menor foi além das suas expectativas. “Isso permite maior aproximação. Todas as dúvidas pontuais são resolvidas e o atendimento específico”, relatou Geovana. “Aqui é mais que eu esperava”, acrescentou com incalculáveis risos a estudante de Matemática. No próximo ano, ela quer realizar estágios, após uma parceria entre IFSP e empresas privadas.

Amanda Fernandes, de Angatuba, distante 40 km de Itapetininga, no 2º ano de Matemática, tem um apoio financeiro de R$ 140 para transporte, mas insuficiente para cobrir estas despesas de deslocamento. Com pais separados, a situação de sua mãe é delicada com uma renda de um salário mínimo.  “Meu pai ajuda a completar o valor do transporte”, disse. Com toda vida escolar em ensino público, ela explicou que os professores do IFSP buscam preencher as lacunas deixadas no Ensino Médio. “Os professores suprem as falhas do passado”, anotou a estudante de 19 anos.

 

Itapetininga se torna importadora de cabeças pensantes

A cidade que era exportadora de jovens para universidades, agora é importadora de cabeças pensantes. De Palmas, capital de Tocantins, distante 1.700 quilômetros de Itapetininga, chegou Matheus Araújo Barbosa, 20 anos, que cursa Engenharia Mecânica.  Com a possibilidade de optar pelo campus do IFSP na capital, preferiu a segurança de Itapetininga, município de médio porte, com 160 mil habitantes. “Pesou a questão de segurança e que eu iria morar sozinho. Aqui tem tudo. Fácil o deslocamento dentro da cidade. Além, é claro, do campus de Itapetininga ter boas referências, com equipamentos novos”, acrescentou.

Barbosa está ao lado do itapetiningano João Henrique Melim Martins, 18 anos, que está no 1º ano de Engenharia Mecânica. A unidade possui 30% dos alunos da macrorregião de Itapetininga. “É uma instituição em que a formação abre o mercado de trabalho. Estou motivado.” Martins vem da Escola Estadual Corina Caçapava Barth. “O que é planejado aqui, de fato acontece”, arrematou o estudante.

Fabio Augusto Amaral, 18 anos, também cursa o 1º ano de Engenharia Mecânica, possui uma bolsa de iniciação científica. Dinheiro que ajuda nos custos da sua alimentação.  Procedente de Marília, interior de São Paulo, Amaral conta que preferiu a unidade de Itapetininga, diante das opções da Universidade Federal de Santa Maria (UFMS), do Rio Grande do Sul, e UFSCar de São Carlos. “Tenho contato com um amigo de São Carlos. Aqui é melhor. Eu prefiro ser peixe grande num lago pequeno, que ser pequeno num mar aberto. Lá (em São Carlos) o aluno é só mais um”, comparou.

 

Como nasce a pesquisa no IFSP

A cada ano, 40 estudantes e professores são inseridos em pesquisas. Parcela de professores e alunos recebe bolsas de estudos. É deste nicho que nascem trabalhos que se tornam novas tecnologias, patentes e artigos científicos. A porta de entrada começa cedo na busca da inovação. “A oferta de bolsas para iniciação científica para alunos prepara futuros pesquisadores”, ensinou o coordenador de inovação e pós-graduação do IFSP Itapetininga, Alexandre Shigunov Neto. Também há duas turmas de pós-graduação com um total de 60 alunos. Há um pedido para outras duas salas. “Isso irá dobrar o número”, contou.

Para aprovar esta solicitação, a avaliação depende da disponibilidade de professores e, em algumas situações, de laboratórios. Este investimento irá refletir diretamente em Itapetininga e região. “Implica em aperfeiçoamento para toda a região, com qualidade e de graça. A formação de professores irá melhorar na atuação na sala de aula e mais resultados positivos do ensino aos alunos”, explicou o coordenador de pós-graduação. Em outros cursos, são formados profissionais mais habilitados para o setor privado.

Foi solicitada a implantação do curso de doutorado para o campus. “Há uma ausência no município, com a abertura da pós-graduação e futuramente com o doutorado, esta realidade começa a mudar. Então teremos toda a cadeia de ensino na instituição”, explicou o coordenador.

 

IBGE apura que região possui 56 doutores e 204 mestres

De acordo com Classificação Nacional de Atividades Econômicas do IBGE (2010), a região possuía em 2010, 56 profissionais com doutorados e 204 com mestrado, praticamente a metade atua em Itapetininga. Conforme o cálculo do órgão federal, a cidade contava com 29 doutores (51,8% do total) e 100 mestres (49% da região). Entre os profissionais com doutorado, 66% estavam no setor de educação e 14% pertenciam ao setor da indústria da transformação. Dos seus mestres, 65% trabalhavam na educação e 10% na administração pública, defesa e seguridade social.

Segundo ainda o IBGE 2010, Itapetininga possuía 11.923 pessoas, com formação acadêmica universitária. Isso representava 9,69% do total da população adulta e estava abaixo da taxa estadual (11,68%), mas acima da nacional (8,31%). Para efeito de comparação, os canadenses apresentavam índice de 51% da população adulta com graduação superior, conforme levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), em 2012.

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