Mãe e filho enfrentam chuva forte e atravessam três países na Meia Maratona Internacional
Esporte, Lazer e Juventude - Quarta-feira, 12 de Novembro de 2025

Atravessar três países da América Latina em uma única corrida em meio a paisagens da Tríplice Fronteira. Pode parecer fácil para quem é acostumado à prática da atividade física, mas para quem participou da Meia Maratona Internacional das Três Fronteiras deste ano, realizada no dia 12 de outubro, com 4.500 atletas de vários países, foi um desafio que ficará guardado na memória.
Muito preparo para correr 21 quilômetros percorrendo ruas do Paraguai, Brasil e Argentina. Sol, chuva, vento? É isso que vamos descobrir com a profissional de esporte de Itapetininga, Maria Elena Vasconcellos, que competiu a prova junto ao filho, Gabriel Vasconcellos.
A prova teve largada em Ciudad del Este (Paraguai), depois passou por Foz do Iguaçú (Brasil) e foi concluída em Puerto Iguazu (Argentina). Nesta última, a linha de chegada da Meia Maratona estava posicionada nos arredores do Marco das Três Fronteiras. O local tem vista privilegiada para a terceira ponte da fronteira, a Ponte da Integração Brasil - Paraguai.
Maria Elena contou que foi a primeira vez que participou dessa meia maratona. Fez a inscrição no começo do ano, que durou apenas 13 dias. É bem concorrida segundo ela.
“Só não esperávamos que fosse chover. A chuva foi bem atemporal. Segundo a própria organização da corrida, foi uma chuva tão intensa comparada a um ciclone extratropical. Não medimos esforços e enfrentamos poças e poças de água em meio a trovões, raios e ventania. Uma aventura que jamais será esquecida. A corrida que era para ser 21 quilômetros, foi concluída em 22,2 quilômetros em 2h50 e meu filho, Gabriel, concluiu em 1h37”.


Preparo
“Você tem que fazer uma preparação. Você tem que ter volume de treino, você não pode simplesmente sair e correr. Qualquer um corre a prova de 21 quilômetros. Mas a que custo isso fisiologicamente vai acontecer para você? Você precisa fazer um treino com pelo menos de uns quatro meses e uma alimentação balanceada”, explicou Maria Elena.
Ela disse que quando a pessoa pratica a corrida, a indicação é tomar um café da manhã reforçado que te dá energia. Na noite do dia que antecede a competição, ingerir uma dieta balanceada com carboidrato e ter uma noite de sono tranquila. Durante a prova, uma suplementação ajuda.
“Nesta prova específica, a largada foi às 6h manhã. A gente teve que acordar às 3h. Não dá para correr em jejum e ainda tinha que pegar o translado em Foz do Iguaçu para levar até o Paraguai. É toda uma preparação. Psicológica, um controle de ansiedade e somando a questão alimentar. Você não pode ficar comendo qualquer coisa. Pode passar mal. Alguns chegam a ter reação devido ao tempero de cada lugar e nesta corrida, teve mais um desafio, que foi a chuva.”, destacou Maria Elena.
Corrida
“A concentração foi no Paraguai e até então, o tempo estava normal. De repente, começou um vento, acabou a força, a energia. E chuva. Muita chuva. Não tínhamos para onde ir e a gente, naquela adrenalina de prova. Ninguém desistiu. A chuva ficou mais intensa, raios e trovões. Ficamos juntos. Como estava sem luz, relógio desligado no pórtico, nós em uma área em declive e enchendo de água, foi dada a largada”, detalhou Maria Elena.
Ainda de acordo com ela, muito cuidado durante o trajeto. “A gente saiu atravessando a cidade, primeiro do Paraguai. E aí tinham umas ruas meio perigosas, meio alagadas, com buracos. Um atleta ajuda o outro. Na ponte da Amizade a chuva diminuiu a intensidade, mas sem dar trégua. Quando chegamos em Foz do Iguaçu, a chuva aumentou. Depois, enfraqueceu e era só garoa. Em seguida, começou a chover forte novamente. Assim foi a corrida inteira. Três países em um só dia debaixo de muita água”, relatou.


Amizade
Questionada sobre fazer amizade em competições como essa, Maria Elena disse que não dá tempo. Tem gente de todos os lugares. Nesta, quando estava esperando a largada, ela conversou com um argentino de 71 anos que estava ao lado. Ele estava superanimado e começou a conversar. Explicou que começou a praticar corrida na pandemia da Covid-19, em 2020. E logo em seguida, não se viram mais.
“Durante o percurso, às vezes, você acaba correndo do lado de outro atleta e acaba conversando. O Gabriel pratica triátlon e foi embora na frente. Eu acabei ficando sozinha. Nisso, eu comecei a conversar com um casal na Avenida das Cataratas, indo para a Argentina. Eles estavam no mesmo hotel onde estávamos hospedados. O marido da moça falou assim pra mim, ah, você estava hoje no café da manhã? Que legal, vocês são de onde? Eu contei que era de Itapetininga. Nisso, ele falou assim, eu conheço o Juraci que é corredor. E eu tenho amizade com o Juraci e ele também estava participando da Meia Maratona. Para registrar o momento, fizemos uma selfie. E eu fiz um bom percurso com eles. Acredito que uns seis quilômetros com os dois”, contou Maria Elena.
Dificuldades no percurso
Os atletas enfrentaram outra situação que foi preciso muito cuidado. Correr pelo acostamento das vias. No Paraguai, as ruas estavam impedidas e por ser muito cedo, não teve problema. Já em Foz do Iguaçu foi diferente. Tinha um trecho que era com cones e onde o corredor tinha que ficar de um lado e do outro, seguiam os carros.
“Na Argentina, quando a gente começou a chegar perto da fronteira, estava cheio de carro e motos para atravessarem, porque era hora de abrir. Em meio aos veículos, não tivemos opção. Atleta que atleta enfrenta as dificuldades e seguem em frente. Corremos, passamos a fronteira e enfrentamos a competição no acostamento da estrada. Por alguns quilômetros, a corrida foi com cuidado pois, todos os atletas dividiam espaço ao lado de carros e motos”, falou Maria Elena.
Diferença de altitude
Aproximadamente 400 metros de trajeto foram de altimetria. Especificamente Foz do Iguaçu e Argentina tinham bastante subida. Foi preciso um preparo, pois não é fácil correr em uma subida e ter muito cuidado no momento da descida. Controle total.
“Pessoas super treinadas ou gente mais jovem até tem velocidade numa descida. Eu, por exemplo, sou muito cautelosa, porque eu corro para me divertir. Eu não corro para me machucar. Então, se você não toma cuidado numa descida, você pode até cair mesmo. E cai feio. Era muito engraçado, porque você subia, daí descia, e você estava feliz porque acabava a descida. Daqui a pouco tinha outra subida. Sem contar a sensação de completar a prova”, explicou a atleta.
Reflexão
Maria Elena contou um fato que chamou a atenção durante a meia maratona. Uma vez, ela leu uma frase que não esquece. ‘Correr é rezar com o corpo’, de um autor desconhecido.
“E realmente é mesmo, porque é um momento que você pode rezar, você pode avaliar a sua vida, você pode pensar o que deu certo, o que não deu certo, eu acho que é um momento seu. Um momento de superação, onde você pensa tudo que você passou para chegar ali, eu acho que cada um tem o seu objetivo, isso é perfeito, eu acho que é muito legal. É uma sensação de superação. E você ver que você está com saúde para continuar e para conseguir terminar, é perfeito. Para mim, é surreal”, explicou.
Carreira e importância do esporte
O basquete sempre foi o esporte de competição de Maria Elena. Jogava basquete na seleção, tendo como treinador o Nereu Marcondes, ex-técnico da Seleção Feminina de Itapetininga. Por conta da faculdade de Educação Física, foi parando de jogar.
Sempre atuou na área esportiva. “Minha área era natação, hidroginástica, então eu não trabalhava muito com a competição, apesar da minha formação ser no treinamento esportivo”, contou Maria Elena que também é pós-graduada na área.
O gosto pela corrida veio depois que a irmã faleceu. “Me chamaram e eu fui. Uma pessoa falou assim para mim. Ou você vai amar ou você vai odiar. E eu amei. E aí eu comecei a correr. Por isso oriento sempre. Caminhe, tenha um momento seu, tenha disciplina de fazer. Eu acho que a disciplina é superimportante. Esporte é vida”, concluiu Maria Elena.



